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Informativo importante => Havia um link maldoso que direcionava o Blog para outro site, e há tempos estou tentando resolver. Consegui!!! Está de volta!!!! ★

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Eu e o meu melhor amigo - Pe. Fabio de Melo


Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói...



O meu melhor amigo morreu numa tarde triste de sexta-feira. O sol ainda era quente e o calor era intenso. Morreu de um jeito cruel. Vítima de um sistema político e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Morreu porque amou demais; morreu porque não sabia mentir.
O meu melhor amigo não sabia ser indiferente. Viveu o tempo todo recolhendo os que estavam caídos e desacreditados. Ele foi um ser humano inesquecível. Entrava em lugares proibidos e dormia na casa de pessoas abomináveis. Trocou santos por Zaqueu, doutores por Mateus. Não se preocupava com o que os outros estavam achando dele, mas ocupava-se de sua vida como se cada instante vivido fosse o último.
Meu melhor amigo tinha o poder de ser irreverente. Ele olhava nos olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida. Segurava nas mãos dos cansados e os convencia que ainda lhes restavam forças para chegar.
O meu melhor amigo era desconcertante. Tinha o dom de confundir os sábios e encantar os simples. Eu, certa vez, também me encantei com ele. Chegou num dia em que eu não sei dizer qual foi. Chegou numa hora em que não sei precisar. Sei que chegou, sei que veio. Entrou pela porta da minha vida e nunca mais o deixei sair. Somos íntimos. Minha fala está presa à dele. Eu o admiro tanto que acabo tendo a pretensão de querer ser como ele. Já me peguei cantando para ele os versos de Tom Jobim: “Não há você sem mim e eu não existo sem você!” Ele sorri quando eu canto.
Meu melhor amigo me ensina a ser humano. Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói. Ele me ensina a apreciar os acordes tristes... e aí dói menos. A beleza distrai a tristeza. Foi assim que eu assisti à sua morte na Sexta-feira Santa. Eu sabia que era passageira. Era apenas um interlúdio feito de acordes menores, dilacerantes de tão tristes. Meu amigo não sabe ser morto. Ele gosta é de ser vivo, vivente! E é assim que eu entendo a dinâmica da Ressurreição. Quando digo: “Ele está no meio de nós!” eu estou convidando o meu amigo a ser vivo através de mim. Quem ama, de verdade, leva sempre a criatura amada por onde vai. E é assim que o amor vai se tornando concreto no meio de nós. É assim que a vida vai ficando eterna... e a gente vai ressuscitando aos poucos...
Hoje, eu acordei mais feliz. Nada de especial me aconteceu. Apenas me recordei de que meu melhor amigo ainda acredita em mim, apesar de tudo. Eu sou um legítimo representante de sua ressurreição no mundo. Não posso me esquecer disso. As pessoas olham para mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim.

Padre Fábio de Melo

Artigos- Canção Nova

10/08/2006 - 09h38

Eu e o meu melhor amigo - Pe. Fabio de Melo


Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói...



O meu melhor amigo morreu numa tarde triste de sexta-feira. O sol ainda era quente e o calor era intenso. Morreu de um jeito cruel. Vítima de um sistema político e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Morreu porque amou demais; morreu porque não sabia mentir.
O meu melhor amigo não sabia ser indiferente. Viveu o tempo todo recolhendo os que estavam caídos e desacreditados. Ele foi um ser humano inesquecível. Entrava em lugares proibidos e dormia na casa de pessoas abomináveis. Trocou santos por Zaqueu, doutores por Mateus. Não se preocupava com o que os outros estavam achando dele, mas ocupava-se de sua vida como se cada instante vivido fosse o último.
Meu melhor amigo tinha o poder de ser irreverente. Ele olhava nos olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida. Segurava nas mãos dos cansados e os convencia que ainda lhes restavam forças para chegar.
O meu melhor amigo era desconcertante. Tinha o dom de confundir os sábios e encantar os simples. Eu, certa vez, também me encantei com ele. Chegou num dia em que eu não sei dizer qual foi. Chegou numa hora em que não sei precisar. Sei que chegou, sei que veio. Entrou pela porta da minha vida e nunca mais o deixei sair. Somos íntimos. Minha fala está presa à dele. Eu o admiro tanto que acabo tendo a pretensão de querer ser como ele. Já me peguei cantando para ele os versos de Tom Jobim: “Não há você sem mim e eu não existo sem você!” Ele sorri quando eu canto.
Meu melhor amigo me ensina a ser humano. Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói. Ele me ensina a apreciar os acordes tristes... e aí dói menos. A beleza distrai a tristeza. Foi assim que eu assisti à sua morte na Sexta-feira Santa. Eu sabia que era passageira. Era apenas um interlúdio feito de acordes menores, dilacerantes de tão tristes. Meu amigo não sabe ser morto. Ele gosta é de ser vivo, vivente! E é assim que eu entendo a dinâmica da Ressurreição. Quando digo: “Ele está no meio de nós!” eu estou convidando o meu amigo a ser vivo através de mim. Quem ama, de verdade, leva sempre a criatura amada por onde vai. E é assim que o amor vai se tornando concreto no meio de nós. É assim que a vida vai ficando eterna... e a gente vai ressuscitando aos poucos...
Hoje, eu acordei mais feliz. Nada de especial me aconteceu. Apenas me recordei de que meu melhor amigo ainda acredita em mim, apesar de tudo. Eu sou um legítimo representante de sua ressurreição no mundo. Não posso me esquecer disso. As pessoas olham para mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim.

Padre Fábio de Melo

Artigos- Canção Nova

10/08/2006 - 09h38

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pe. Fábio: Cristianismo mal vivido

Padre Fábio de Melo em entrevista (no Acampamento de Pentecostes - maio/2008), fala sobre as consequências do cristianismo mal vivido e a desagregação da espiritualidade da vida cotidiana.







http://www.webtvcn.com/?id=78681


Site WEBTVCN

Pe. Fábio: Cristianismo mal vivido

Padre Fábio de Melo em entrevista (no Acampamento de Pentecostes - maio/2008), fala sobre as consequências do cristianismo mal vivido e a desagregação da espiritualidade da vida cotidiana.







http://www.webtvcn.com/?id=78681


Site WEBTVCN

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Não Pense duas vezes... (Pe. Fabio de Melo)

A felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal arisco. Tem que ser adimirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.

Felicidade é chuva que cai na madrugada, quando dormimos. O que vemos é a terra agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora da ressurreição.

Felicidade é coisa que não tem nome. É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais belos e falantes.

Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero. É olhar de amigo em horas de abandono. É fala calmante em instantes de desconsolo.

Felicidade é palavra pouca que diz muito. É frase dita na hora certa e que vale por livros inteiros.

Eu busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus escrito na minha geladeira... Eu vivo assim... Sem doma, sem dona, sem porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha bandeira.

Eu quero a felicidade de toda hora. Não quero o rancor, não quero o alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas. O que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo. Isso sim é felicidade sem medidas.

O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de humor, o choro vez em quando.

Felicidades pequenas... O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à distância, sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar preferido.

A felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito. Não forço para que seja como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.

E então sorrio, como quem sabe, que quando ela chega, o melhor é não dispersar as forças... E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.
O que hoje você tem diante dos olhos ?
Merece um sorriso? Não pense duas vezes...

Padre fabio de Melo

Não Pense duas vezes... (Pe. Fabio de Melo)

A felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal arisco. Tem que ser adimirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.

Felicidade é chuva que cai na madrugada, quando dormimos. O que vemos é a terra agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora da ressurreição.

Felicidade é coisa que não tem nome. É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais belos e falantes.

Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero. É olhar de amigo em horas de abandono. É fala calmante em instantes de desconsolo.

Felicidade é palavra pouca que diz muito. É frase dita na hora certa e que vale por livros inteiros.

Eu busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus escrito na minha geladeira... Eu vivo assim... Sem doma, sem dona, sem porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha bandeira.

Eu quero a felicidade de toda hora. Não quero o rancor, não quero o alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas. O que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo. Isso sim é felicidade sem medidas.

O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de humor, o choro vez em quando.

Felicidades pequenas... O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à distância, sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar preferido.

A felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito. Não forço para que seja como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.

E então sorrio, como quem sabe, que quando ela chega, o melhor é não dispersar as forças... E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.
O que hoje você tem diante dos olhos ?
Merece um sorriso? Não pense duas vezes...

Padre fabio de Melo

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Tudo Posso - Padre Fabio de Melo

Tudo Posso (letra da música) - Cd Vida



Tudo Posso - Padre Fabio de Melo

Tudo Posso (letra da música) - Cd Vida



terça-feira, 9 de setembro de 2008

Fábio de Melo: padre no altar e padre no palco - Entrevistas - 25 de Fevereiro de 2006


Fábio de Melo: padre no altar e padre no palco

Boa pinta, jeito de artista de novela ou cantor de televisão, o padre Fabio de Melo vai conquistando o seu espaço na mídia, apesar do sucesso não desvia do verdadeiro ministério a que foi vocacionado: uma preocupação que não passa despercebida nesta entrevista que o mais jovem dos padres-cantores concedeu.
- Como e quando começou a vocação de cantor? Isto aconteceu antes ou depois da vocação de consagrado?
Pe. Fábio de Melo – Desde criança sempre gostei de música. Na minha vida tem a mesma função que tem no desenho animado. Sem ela não saberemos entender a cena. A música é o elemento que nos direciona para a interpretação mais acertada dos fatos.
- O senhor já foi tentado a largar a vida de consagrado para seguir uma vida de artista secular?
Pe. Fábio de Melo – Não. Mesmo porque sempre tive muita certeza do que queria. Deus me deu a graça de conciliar tudo o que sou com tudo o que Ele queria que eu fosse. Sempre inventam histórias a nosso respeito. Ser público consiste em sofrer na carne as invenções dos outros. É lamentável que estas conversas surjam assim do nada. Por vezes, nós cristãos criticamos a mídia que sobrevive da fofoca, mas acabamos reproduzindo em nosso meio a mesma postura.Minha vida sacerdotal é minha realização. Nunca pensei em desistir dela. Se um dia isso vier a me acontecer saberão por mim mesmo. Não quero informantes da minha vida, mas participantes, gente que me ajude a ser padre, que reze por mim e que não embarque nos comentários de quem não sabe fazer outra coisa, senão inventar histórias a respeito da vida de quem nem sequer conhece. Só isso. No mais, estou feliz. Recolho a dor e alegria de ser o que sou e de fazer o que faço.
- O senhor é um padre jovem, bonito e famoso. Quando sobe no palco as garotas gritam freneticamente. Qual é a sensação nesse momento?
Pe. Fábio de Melo – Encaro com naturalidade. A música católica sobrevive assim. Todos os que trabalham com música lidam com essa manifestação inicial. Quando começa o show é muito natural que as pessoas que estão ali se manifestem de alguma forma. O grito é a expressão da massa. Não há outra forma possível de se demonstrar o carinho que se tem pela pessoa que entrou no palco. Agora, quando percebo que os gritos não passam, então dou um jeito de mostrar que não estou ali para isso. O palco não é diferente do altar. Sou padre nos dois e para mim não há diferença. O padre que preside o mistério da Eucaristia é o mesmo que preside o mistério da canção, que também é uma forma de comunhão existencial, partilha, vida que nos torna irmãos.- A música é também um instrumento de evangelização.
Das músicas que o senhor gravou até hoje, na sua opinião, qual delas transmite mais este ensinamento?
Pe. Fábio de Melo – Gosto de dizer bem as coisas. Música para mim é uma oportuinidade de traduzir a teologia que amo tanto. O povo merece conhecer a verdade revelada, a face verdadeira de Deus, que é a misericórdia. Sempre que escuto alguém me dizer que Deus lhe falou através de uma canção composta por mim, chego à conclusão de que aquela música já cumpriu a sua missão, já valeu por ter sido feita. Por isso, é difícil identificar a que mais transmitiu algum bem às pessoas. Não quero ser injusto com minha obra nem tão pouco colocá-la acima do que ela é.
- São 90 milhões de católicos. Na sua opinião, por que é que se vende tão poucos CDs de música católica e também livros e revistas católicas, enquanto que as coisas do mundo, que são mais caras, vendem mais?
Pe. Fábio de Melo – Porque, infelizmente, a cultura religiosa não fez a ponte com a cultura popular. Hoje já vemos sinais de mudança. Estamos aprimorando a linguagem, desenvolvendo um jeito próprio de dizer as coisas, adotando o bom gosto e superando os estereótipos do sagrado. Não podemos mais permanecer na contramão. O bom gosto tem que tomar conta das nossas produções. O povo gosta de coisa bonita. E Deus também.
- Toda música tem uma história. Para o senhor, qual história teria uma música? E qual música?
Pe. Fábio de Melo – A arte é sempre uma forma de transformação alquímica. Uma tristeza sempre se reveste de beleza quando verdadeiramente experimentada. Eu não fujo do que me faz sofrer. Não tenho medo da dor; ao contrário, se tiver que sofrer eu quero sofrer até chegar ao ensinamento que na dor está latente. A música “Mais perto” nasceu assim. Ela é fruto colhido de uma dor sem tamanho. A música “Marcas do eterno” também. Sempre que alguém me pergunta “por que você fez essa música?” eu respondo: “não sei, porque se eu soubesse não a teria feito. A arte é um recurso que nos ajuda a dizer o que por natureza não pode ser dito.

Fábio de Melo: padre no altar e padre no palco - Entrevistas - 25 de Fevereiro de 2006


Fábio de Melo: padre no altar e padre no palco

Boa pinta, jeito de artista de novela ou cantor de televisão, o padre Fabio de Melo vai conquistando o seu espaço na mídia, apesar do sucesso não desvia do verdadeiro ministério a que foi vocacionado: uma preocupação que não passa despercebida nesta entrevista que o mais jovem dos padres-cantores concedeu.
- Como e quando começou a vocação de cantor? Isto aconteceu antes ou depois da vocação de consagrado?
Pe. Fábio de Melo – Desde criança sempre gostei de música. Na minha vida tem a mesma função que tem no desenho animado. Sem ela não saberemos entender a cena. A música é o elemento que nos direciona para a interpretação mais acertada dos fatos.
- O senhor já foi tentado a largar a vida de consagrado para seguir uma vida de artista secular?
Pe. Fábio de Melo – Não. Mesmo porque sempre tive muita certeza do que queria. Deus me deu a graça de conciliar tudo o que sou com tudo o que Ele queria que eu fosse. Sempre inventam histórias a nosso respeito. Ser público consiste em sofrer na carne as invenções dos outros. É lamentável que estas conversas surjam assim do nada. Por vezes, nós cristãos criticamos a mídia que sobrevive da fofoca, mas acabamos reproduzindo em nosso meio a mesma postura.Minha vida sacerdotal é minha realização. Nunca pensei em desistir dela. Se um dia isso vier a me acontecer saberão por mim mesmo. Não quero informantes da minha vida, mas participantes, gente que me ajude a ser padre, que reze por mim e que não embarque nos comentários de quem não sabe fazer outra coisa, senão inventar histórias a respeito da vida de quem nem sequer conhece. Só isso. No mais, estou feliz. Recolho a dor e alegria de ser o que sou e de fazer o que faço.
- O senhor é um padre jovem, bonito e famoso. Quando sobe no palco as garotas gritam freneticamente. Qual é a sensação nesse momento?
Pe. Fábio de Melo – Encaro com naturalidade. A música católica sobrevive assim. Todos os que trabalham com música lidam com essa manifestação inicial. Quando começa o show é muito natural que as pessoas que estão ali se manifestem de alguma forma. O grito é a expressão da massa. Não há outra forma possível de se demonstrar o carinho que se tem pela pessoa que entrou no palco. Agora, quando percebo que os gritos não passam, então dou um jeito de mostrar que não estou ali para isso. O palco não é diferente do altar. Sou padre nos dois e para mim não há diferença. O padre que preside o mistério da Eucaristia é o mesmo que preside o mistério da canção, que também é uma forma de comunhão existencial, partilha, vida que nos torna irmãos.- A música é também um instrumento de evangelização.
Das músicas que o senhor gravou até hoje, na sua opinião, qual delas transmite mais este ensinamento?
Pe. Fábio de Melo – Gosto de dizer bem as coisas. Música para mim é uma oportuinidade de traduzir a teologia que amo tanto. O povo merece conhecer a verdade revelada, a face verdadeira de Deus, que é a misericórdia. Sempre que escuto alguém me dizer que Deus lhe falou através de uma canção composta por mim, chego à conclusão de que aquela música já cumpriu a sua missão, já valeu por ter sido feita. Por isso, é difícil identificar a que mais transmitiu algum bem às pessoas. Não quero ser injusto com minha obra nem tão pouco colocá-la acima do que ela é.
- São 90 milhões de católicos. Na sua opinião, por que é que se vende tão poucos CDs de música católica e também livros e revistas católicas, enquanto que as coisas do mundo, que são mais caras, vendem mais?
Pe. Fábio de Melo – Porque, infelizmente, a cultura religiosa não fez a ponte com a cultura popular. Hoje já vemos sinais de mudança. Estamos aprimorando a linguagem, desenvolvendo um jeito próprio de dizer as coisas, adotando o bom gosto e superando os estereótipos do sagrado. Não podemos mais permanecer na contramão. O bom gosto tem que tomar conta das nossas produções. O povo gosta de coisa bonita. E Deus também.
- Toda música tem uma história. Para o senhor, qual história teria uma música? E qual música?
Pe. Fábio de Melo – A arte é sempre uma forma de transformação alquímica. Uma tristeza sempre se reveste de beleza quando verdadeiramente experimentada. Eu não fujo do que me faz sofrer. Não tenho medo da dor; ao contrário, se tiver que sofrer eu quero sofrer até chegar ao ensinamento que na dor está latente. A música “Mais perto” nasceu assim. Ela é fruto colhido de uma dor sem tamanho. A música “Marcas do eterno” também. Sempre que alguém me pergunta “por que você fez essa música?” eu respondo: “não sei, porque se eu soubesse não a teria feito. A arte é um recurso que nos ajuda a dizer o que por natureza não pode ser dito.

Descer da árvore - Pe. Fábio de Melo

Descer da árvore (Kairós - 11/03/2007)

Precisaria dizer e confessar que a canção da saudade que o diácono Nelsinho Corrêa cantou há pouco já me emocionava ali no canto, porque eu acredito nisso: Deus nos dá o dom da saudade para preservar o amor em nós. Só tem saudade quem já amou. Existem muitos momentos da nossa história que a vida está passando por nós, mas nós não estamos passando pela vida.
Só ama de verdade quem é capaz de retirar o outro da mira do tempo; aquelas pessoas que não deixam a vida passar, mas passam pela vida, e fazem a experiência dela.
Um psicólogo diz que a fonte de todo desejo é ser desejado. E desejo está intimamente ligado ao conceito de encontro. O que buscamos na vida?
Quantas oportunidades tivemos de estar com Deus e não O encontramos ainda, ou tivemos a oportunidade de estar com pessoas, mas não as encontramos. Por que isso? Porque você precisa acender a luz para enxergar essa pessoa.Cada vez que amamos, a vida fica eterna em nós e também por quem passa por nós. Neste mundo marcado pela temporalidade, onde tudo é tão fugaz, nós estamos cansados de sermos olhados de qualquer jeito. Nós nos acostumamos a não acender a luz, e por isso não descobrimos a graça do encontro. Se o encontro é acender a luz, o desencontro é apagar a luz.Nossa experiência com Deus pode ser marcada por vários desencontros, porque não acendemos a luz. Equivocamos-nos com pessoas que achamos concretas na nossa história, mas que são apenas "fantasmas".
Aquele que esbarra com alguém fica feliz só por um tempo, por isso é preciso ter um encontro. Na Sagrada Escritura muitas pessoas encontraram Jesus.Esse é Jesus, um homem raro, um contraversor no seu tempo.
Zaqueu, de certo, vivia sua vida desregrada porque ainda não tinha ouvido falar de um Deus que queria estar perto dos pobres e miseráveis. Ele nunca tinha escutado alguém dizer que Deus preferia os que estão "à margem". Deus foi causa de desencontro na sua vida, porque Zaqueu foi educado a ter essa imagem de Deus. E por curiosidade ele sai de casa, porque conhecia a fama de Jesus, e sobe numa árvore. Há tanto significado nessa pequenez de Zaqueu, de subir na árvore, mas o gesto de descer dela foi maior ainda o significado. Qualquer curiosidade nos faz subir na árvore, difícil é você descer e saber que a ‘festa’ vai acabar, mas Deus queria que ele descesse para ter um encontro com Ele. Como é que podemos acreditar que mesmo sendo nós do jeito que somos, e Deus do jeito que é, pode acontecer entre nós uma história de amor?Eu sei que você cresceu e foi educado achando que o Papai do Céu era um Deus que amava apenas os certinhos. Jesus veio mostrar que é diferente!
Aquele que sobe na árvore é olhado nos olhos, e quando somos olhados nos olhos não dá para sermos os mesmos. Parece que fomos impactados por um poder de revelarmos a nós mesmos. Por isso Zaqueu desceu e viu que o lugar dele era lá embaixo. Jesus prendeu os olhos nos olhos de Zaqueu. E depois ele que foi olhado por Ele não teve como voltar mais para a sua vida velha.Jesus disse para Zaqueu: "Desce, que hoje eu vou ficar na tua casa". Jesus não disse que iria dar uma passadinha na casa dele, disse que ia ficar. Não é apenas um encontro temporário, Aquele que veio, veio para ficar. E quando Deus fica na nossa vida, de fato, somos encontrados, e um processo de transformação acontece em nós.Se você quer de fato encontrar alguém, precisa criar habilidade para olhar nos olhos e viver uma história juntos. Não tem como ser amigos, ou marido e mulher, se não se olha nos olhos. A mentira cai no momento em que olhamos nos olhos, e só saber reconhecer a mentira olhando nos olhos daquele que já estabeleceu intimidade.Assim como temos religião de espetáculo, tem amor de espetáculo, que é o que chamamos de paixão. O (a) apaixonado(a) não vê defeito em ninguém.

A paixão dura o tempo que você deixar essa luz apagada. O encontro só acontece quando acendemos a luz.
Você não tem que procurar a pessoa ideal, você tem que procurar a pessoa certa. A pessoa ideal é a sua imagem e semelhança. O mesmo acontece com Deus. Nós, muitas vezes, fantasiamos Deus; esse Deus que nós imaginamos, e por isso mesmo, por muitas vezes somos o deus do deus que imaginamos, o deus a quem eu mando na oração, que só pede o que acha melhor; damos ordens a Deus ao invés de obedecer. Não existe encontro quando você encontra imaginando.O encontro é que marca o conhecimento. A mudança de Zaqueu se deu com o fato de Jesus ter olhado nos olhos dele. A caminhada com Jesus é que nos faz saber que conhecemos a Deus. É preciso conhecer Deus, caminhando com Ele. Se não caminhamos com Ele, O imaginamos como Ele é e como Ele agiria. Deixa Deus ser Deus na sua vida. Deixe que o encontro aconteça. Deixa que a vida te revele Deus!Uma certeza: os infelizes querem encontrar a felicidade, os mentirosos desejam encontrar a verdade, os ladrões buscam encontrar a honestidade. Mas para que isso aconteça é preciso ir em busca desse encontro das coisas que acreditamos.Eu não sei qual o motivo de você estar aqui, eu não sei como anda o seu coração e o que você espera de Deus. Eu não sei o que hoje você gostaria que acontecesse na sua história, ma tenho a certeza: errando ou acertando, a gente busca esse encontro.Tem muita gente que precisa de um consolo, que precisa ser encontrada. Nossas dores são universais, porque precisamos, de fato, encontrar uma solução. Muitos de nós estamos perdidos, como no deserto, com a sensação de que o tempo está passando, que estamos perdendo tempo. Como que podemos corrigir a nossa vida? Descendo da árvore!
Não fique na árvore gritando o que você precisa, mas desça da árvore, e caminhe na direção de quem você precisa amar, pedir perdão. Perde tempo demais quem fica na árvore gritando as sua ingratidões, suas dores, seus males, suas necessidades. Desça da árvore!Tem pessoas aqui que apenas precisam de um olhar amigo, encontrar um olhar que dispense de falar alguma coisa, quando não sabemos dizer o que sentimos. Às vezes, um olhar amigo é o tudo e o pouco que precisamos.Buscar em Deus resolver os nossos conflitos. Todos nós trazemos conflitos, com perguntas do tipo: "O que eu devo fazer? Com quem devo ir?" Às vezes, ficamos na árvore com os nossos conflitos e não descemos para resolvê-los.
Todos nós temos uma tristeza a ser curada, um sentimento a ser aliviado. E nós sabemos que Deus nos ajuda a sair dessa, a voltar à realidade; de alguma forma já fomos encontrados. Jesus é o caminho, a verdade a vida!Eu sei que nós, cristãos, vivemos uma pretensão maravilhosa: ter o nosso coração semelhante ao de Jesus. Mas para isso é preciso ir ao encontro d’Ele, porque Aquele que está te olhando está pedindo para você descer da árvore. Ele promete e cumpre: quer salvar o seu coração; quer que você desça da árvore.
Quando você descer dessa árvore, fique só com Ele.
Padre Fábio de Melo