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Informativo importante => Havia um link maldoso que direcionava o Blog para outro site, e há tempos estou tentando resolver. Consegui!!! Está de volta!!!! ★

domingo, 13 de dezembro de 2009

O Dia on line - Padre Fábio de Melo: A fé que nasce do medo

A fé que nasce do medo
12.12.09 às 23h45


Rio - Já tive medo de Deus. Inúmeras vezes. Nos tempos da infância ouvi dizer que Ele tinha olhos imensos que não nos perdiam de vista. A frase servia como alerta. Ficava de olho nos deslizes cometidos pela humanidade. Os castigos provinham dessa observância. Isso me fez perder a espontaneidade de errar. O erro, processo natural da condição humana, tornou-se motivo de culpas e autopunições. Levei tempo para reconsiderar o ensinamento. A responsável pela reconstrução foi minha mãe.

Mesmo não tendo frequentado faculdade de Teologia, ela me fez compreender de maneira diferente o tamanho dos olhos divinos. Eles são grandes porque amam. Para que você se sinta protegido por eles, disse-me com simplicidade, sem rodeios.

A frase de minha mãe repercutiu dentro de mim. Foi a partir dela que eu tive a graça de compreender que vigilância também é amor. Ela me deu oportunidade de iniciar um processo de reconciliação interior, cujo fruto eu ainda não colhi na totalidade, pois pertence ao processo da vida toda. Aprendizado que propõe uma antropologia positiva, otimista, capaz de ver esperanças no coração humano, mesmo sabendo que ele é território de contradições.

Mais tarde, depois de ter tido a graça de conhecer a escrita vigorosa da mineira Adélia Prado, tive contato com um verso surpreendente que está no seu poema “Filhinha”. O verso é religioso. Parece fazer parte de um processo de reconstrução da imagem divina. A autora diz: “Deus não é severo mais. Suas rugas, sua boca vincada são marcas de expressão de tanto sorrir pra mim.”

Fiquei comovido com a singeleza da confissão. Revela uma ousadia na compreensão do Sagrado. Uma mística irreverente, capaz de rasgar o véu do templo, mas sem promover a banalização do espaço. O verso é boa nova, pois é anúncio de uma descoberta pessoal que tem o poder de mudar a interpretação que a poetisa faz de si mesma. Ela também deve ter crescido sob a égide de um discurso religioso fortemente marcado pelas ameaças de vigilância e punições.

É bem provável que Adélia tenha sido vítima das consequências desastrosas do discurso que ensina o amor a Deus a partir do medo. É estranho, mas a instrumentalização do medo sempre fez parte do contexto das religiões. É um recurso simples. Gera efeito rápido, obediência. Mas não é recurso eficaz.

O medo paralisa, impede a reflexão. Religião que não faz refletir pode ser nociva. A obediência cega não costuma fomentar valores consistentes. Limita-se a ser a reprodução de um comportamento que deixará de ser considerado, no momento em que cessar a vigilância. Religião pode nos fazer amadurecer, mas pode também nos infantilizar. Depende da Antropologia que sustenta a reflexão humana. Depende da Teologia que viabiliza a Revelação divina. É neste ponto que as estradas se encontram. A interpretação que fazemos de Deus reflete diretamente na interpretação que fazemos de nós mesmos.







O Dia on line - Padre Fábio de Melo: A fé que nasce do medo

A fé que nasce do medo
Fonte : O Dia on line
12.12.09 às 23h45


Rio - Já tive medo de Deus. Inúmeras vezes. Nos tempos da infância ouvi dizer que Ele tinha olhos imensos que não nos perdiam de vista. A frase servia como alerta. Ficava de olho nos deslizes cometidos pela humanidade. Os castigos provinham dessa observância. Isso me fez perder a espontaneidade de errar. O erro, processo natural da condição humana, tornou-se motivo de culpas e autopunições. Levei tempo para reconsiderar o ensinamento. A responsável pela reconstrução foi minha mãe.

Mesmo não tendo frequentado faculdade de Teologia, ela me fez compreender de maneira diferente o tamanho dos olhos divinos. Eles são grandes porque amam. Para que você se sinta protegido por eles, disse-me com simplicidade, sem rodeios.

A frase de minha mãe repercutiu dentro de mim. Foi a partir dela que eu tive a graça de compreender que vigilância também é amor. Ela me deu oportunidade de iniciar um processo de reconciliação interior, cujo fruto eu ainda não colhi na totalidade, pois pertence ao processo da vida toda. Aprendizado que propõe uma antropologia positiva, otimista, capaz de ver esperanças no coração humano, mesmo sabendo que ele é território de contradições.

Mais tarde, depois de ter tido a graça de conhecer a escrita vigorosa da mineira Adélia Prado, tive contato com um verso surpreendente que está no seu poema “Filhinha”. O verso é religioso. Parece fazer parte de um processo de reconstrução da imagem divina. A autora diz: “Deus não é severo mais. Suas rugas, sua boca vincada são marcas de expressão de tanto sorrir pra mim.”

Fiquei comovido com a singeleza da confissão. Revela uma ousadia na compreensão do Sagrado. Uma mística irreverente, capaz de rasgar o véu do templo, mas sem promover a banalização do espaço. O verso é boa nova, pois é anúncio de uma descoberta pessoal que tem o poder de mudar a interpretação que a poetisa faz de si mesma. Ela também deve ter crescido sob a égide de um discurso religioso fortemente marcado pelas ameaças de vigilância e punições.

É bem provável que Adélia tenha sido vítima das consequências desastrosas do discurso que ensina o amor a Deus a partir do medo. É estranho, mas a instrumentalização do medo sempre fez parte do contexto das religiões. É um recurso simples. Gera efeito rápido, obediência. Mas não é recurso eficaz.

O medo paralisa, impede a reflexão. Religião que não faz refletir pode ser nociva. A obediência cega não costuma fomentar valores consistentes. Limita-se a ser a reprodução de um comportamento que deixará de ser considerado, no momento em que cessar a vigilância. Religião pode nos fazer amadurecer, mas pode também nos infantilizar. Depende da Antropologia que sustenta a reflexão humana. Depende da Teologia que viabiliza a Revelação divina. É neste ponto que as estradas se encontram. A interpretação que fazemos de Deus reflete diretamente na interpretação que fazemos de nós mesmos.