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Informativo importante => Havia um link maldoso que direcionava o Blog para outro site, e há tempos estou tentando resolver. Consegui!!! Está de volta!!!! ★

sábado, 9 de janeiro de 2010

Ser feliz dá trabalho (pe. Fábio de Melo) - O Dia On Line


Rio - O poeta dizia: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” Tinha ele razão? Não sei. O que sei é que neste imenso mercado em que se tornou a vida, encontramos ilusões temporárias sendo vendidas como se fossem felicidades duradouras.

O empenho...

Ser feliz dá trabalho. Há quem diga que não. Acredita nas fórmulas mágicas que esta literatura contemporânea nos oferece, prometendo-nos uma série de felicidades, que segundo aqueles que a produzem, podem ser conquistadas com a aplicação das receitas por eles oferecidas.

Há quem preveja o futuro. Garante ler nas mãos as rotas do amanhã, os amores que virão, os sofrimentos que chegarão e os fatos que mudarão a história. Há quem creia nos búzios, nos tarôs, nas simpatias que atraem sorte e até mesmo nas promessas que insistem em mercantilizar o que por natureza é gratuito em Deus.

Eu continuo sem crer em tudo isso. Ainda prefiro ver a vida, o novo ano, as novas possibilidades como um novelo misterioso que trago preso a mim, pela ponta. Viver consiste em deixar o novelo se desprender das mãos. No gesto de deixá-lo cair, permanecem duas perspectivas: o cuidado de segurar a ponta para que não se perca de nossas mãos e a liberdade para que se desenrole de acordo com o movimento. Nisto está a beleza: a previsão responsável e o espaço para a surpresa.

Felicidade também é uma forma de planejamento. Arquitetamos os sonhos, somamos os recursos, projetamos as iniciativas, marcamos datas, sacrificamos alguns exageros, reduzimos os supérfluos, construímos esperanças. Mas é também surpresa. Um bilhete na geladeira, um encontro inesperado, uma declaração de amor, um telefonema de quem andava sumido, uma graça do menino malabarista no semáforo da esquina, um bolo de fubá escondido no forno e um recadinho da mãe colado na porta: “Fiz pra você!”

Tudo vai nos despertando sorrisos, vontade de viver, de cantar aquela música brega, de dar vexame em público, de dizer que ama, que ama, que ama.

ILUSÕES TEMPORÁRIAS...

Inicio de ano é assim. Quando nos damos por nós, tudo já está programado. O calendário já está riscado até dezembro, a agenda já está programada e não há espaço nem para a possibilidade de uma gripe inesperada. Tudo deverá ser cumprido com rigor espartano! Planejar é bom. Ruim é não deixar espaço para a criatividade da hora.

Há quem faça o planejamento em cima de previsões mágicas. Os bruxos de plantão insistem em dizer que tudo isso dá certo. Eu acredito só na metade da previsão. É previsível só o que o bom senso já nos anuncia como verdade. O resto é conversa de quem não tem o que fazer, de gente desempregada que insiste em cuidar da vida alheia ao invés de cuidar da própria vida. Gente que vende felicidades prontas para o consumo, que dispensa o esforço e que garanta um resultado maravilhoso.

Felicidades encaixotadas, prontas para serem vendidas, comercializadas, trocadas, excluídas. Comércio que insiste em nos convencer de que tem a solução para os nossos problemas. Felicidade fácil. Aparelhos que prometem nos emagrecer, enquanto comemos pipoca amontoados no sofá da sala. Cápsulas milagrosas que vão comendo a gordura da nossa preguiça enquanto continuamos preguiçosos, comendo as coisas que nos fazem mal, insistindo em expor o nosso corpo a todos os malefícios das gorduras saturadas, hidrogenadas e outros adas...

Aparelhos que modelam a nossa barriga enquanto dormimos, cremes que fazem desaparecer do rosto aquilo que a vida levou anos para criar. Tudo rápido, fácil, sem esforço. Felicidades provisórias. Coisa de gente que não quer o esforço de um exercício que faz bem pro coração. Ampolas que dão ao corpo a massa muscular que o organismo levaria dois anos para alcançar. Felicidades sem volta. Morte silenciosa que vai comprometendo o interior da carne para que a exterioridade pareça forte.

Felicidades futuras. Coisa de gente que projeta o início da dieta para segunda feira, que diz que pára de fumar quando quer, que só bebe socialmente, que não é escravo de nada, que sabe muito bem o que está fazendo. Felicidades mentirosas. Falas decoradas de quem não tem coragem de dizer que falhou, que não deu certo, que escolheu o caminho errado e que não soube voltar atrás. Coisa de gente que insiste em viver os dias só para vê-los passar. Felicidades que enganam. Gente que jura amor eterno já sabendo que não poderá ficar.

FELICIDADES DURADOURAS...

Por outro lado, há um jeito interessante de ser feliz. Felicidades responsáveis. Gestos que nos ajudam a reconstruir a vida, encurtar as distâncias, promover as dietas, diminuir as gorduras. Vida que tem horário marcado para o cuidado do corpo, sem desculpas, sem embromos e sem enrolação. Felicidades partilhadas. Descobrir que repartir o instante feliz é uma forma de multiplicá-lo, fazê-lo eterno. Perceber que belezas superiores insistem em se esconder em belezas menores, pouco atraentes.

Felicidades sem aviso. Reencontros inesperados, presente que se recebe sem razão, comemorações sem datas especiais. Pequenos gestos que fazem a diferença na soma de tudo. Vida que se comemora só por comemorar, só por reconhecer o que nela é único, irrepetível, singular. Eu espero que este novo ano seja um tempo propício para felicidades verdadeiras.

Eu não tenho nenhuma previsão para sua vida. Para mim, não importa se Saturno está na linha de Júpiter ou se as cartas revelaram verdades ocultas a respeito de quem quer que seja. O que sei é que a vida continua amanhecendo, com ou sem a minha previsão. O inesperado ainda é a metade mais viva da vida. Programe-se bem para este novo ano. Só quem se programa e cumpre bem o que se propôs saberá lidar com as surpresas. No mais, eu lhe desejo muitas e muitas felicidades sem aviso, sem previsões...

Ser feliz dá trabalho (pe. Fábio de Melo) - O Dia On Line


Rio - O poeta dizia: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” Tinha ele razão? Não sei. O que sei é que neste imenso mercado em que se tornou a vida, encontramos ilusões temporárias sendo vendidas como se fossem felicidades duradouras.

O empenho...

Ser feliz dá trabalho. Há quem diga que não. Acredita nas fórmulas mágicas que esta literatura contemporânea nos oferece, prometendo-nos uma série de felicidades, que segundo aqueles que a produzem, podem ser conquistadas com a aplicação das receitas por eles oferecidas.

Há quem preveja o futuro. Garante ler nas mãos as rotas do amanhã, os amores que virão, os sofrimentos que chegarão e os fatos que mudarão a história. Há quem creia nos búzios, nos tarôs, nas simpatias que atraem sorte e até mesmo nas promessas que insistem em mercantilizar o que por natureza é gratuito em Deus.

Eu continuo sem crer em tudo isso. Ainda prefiro ver a vida, o novo ano, as novas possibilidades como um novelo misterioso que trago preso a mim, pela ponta. Viver consiste em deixar o novelo se desprender das mãos. No gesto de deixá-lo cair, permanecem duas perspectivas: o cuidado de segurar a ponta para que não se perca de nossas mãos e a liberdade para que se desenrole de acordo com o movimento. Nisto está a beleza: a previsão responsável e o espaço para a surpresa.

Felicidade também é uma forma de planejamento. Arquitetamos os sonhos, somamos os recursos, projetamos as iniciativas, marcamos datas, sacrificamos alguns exageros, reduzimos os supérfluos, construímos esperanças. Mas é também surpresa. Um bilhete na geladeira, um encontro inesperado, uma declaração de amor, um telefonema de quem andava sumido, uma graça do menino malabarista no semáforo da esquina, um bolo de fubá escondido no forno e um recadinho da mãe colado na porta: “Fiz pra você!”

Tudo vai nos despertando sorrisos, vontade de viver, de cantar aquela música brega, de dar vexame em público, de dizer que ama, que ama, que ama.

ILUSÕES TEMPORÁRIAS...

Inicio de ano é assim. Quando nos damos por nós, tudo já está programado. O calendário já está riscado até dezembro, a agenda já está programada e não há espaço nem para a possibilidade de uma gripe inesperada. Tudo deverá ser cumprido com rigor espartano! Planejar é bom. Ruim é não deixar espaço para a criatividade da hora.

Há quem faça o planejamento em cima de previsões mágicas. Os bruxos de plantão insistem em dizer que tudo isso dá certo. Eu acredito só na metade da previsão. É previsível só o que o bom senso já nos anuncia como verdade. O resto é conversa de quem não tem o que fazer, de gente desempregada que insiste em cuidar da vida alheia ao invés de cuidar da própria vida. Gente que vende felicidades prontas para o consumo, que dispensa o esforço e que garanta um resultado maravilhoso.

Felicidades encaixotadas, prontas para serem vendidas, comercializadas, trocadas, excluídas. Comércio que insiste em nos convencer de que tem a solução para os nossos problemas. Felicidade fácil. Aparelhos que prometem nos emagrecer, enquanto comemos pipoca amontoados no sofá da sala. Cápsulas milagrosas que vão comendo a gordura da nossa preguiça enquanto continuamos preguiçosos, comendo as coisas que nos fazem mal, insistindo em expor o nosso corpo a todos os malefícios das gorduras saturadas, hidrogenadas e outros adas...

Aparelhos que modelam a nossa barriga enquanto dormimos, cremes que fazem desaparecer do rosto aquilo que a vida levou anos para criar. Tudo rápido, fácil, sem esforço. Felicidades provisórias. Coisa de gente que não quer o esforço de um exercício que faz bem pro coração. Ampolas que dão ao corpo a massa muscular que o organismo levaria dois anos para alcançar. Felicidades sem volta. Morte silenciosa que vai comprometendo o interior da carne para que a exterioridade pareça forte.

Felicidades futuras. Coisa de gente que projeta o início da dieta para segunda feira, que diz que pára de fumar quando quer, que só bebe socialmente, que não é escravo de nada, que sabe muito bem o que está fazendo. Felicidades mentirosas. Falas decoradas de quem não tem coragem de dizer que falhou, que não deu certo, que escolheu o caminho errado e que não soube voltar atrás. Coisa de gente que insiste em viver os dias só para vê-los passar. Felicidades que enganam. Gente que jura amor eterno já sabendo que não poderá ficar.

FELICIDADES DURADOURAS...

Por outro lado, há um jeito interessante de ser feliz. Felicidades responsáveis. Gestos que nos ajudam a reconstruir a vida, encurtar as distâncias, promover as dietas, diminuir as gorduras. Vida que tem horário marcado para o cuidado do corpo, sem desculpas, sem embromos e sem enrolação. Felicidades partilhadas. Descobrir que repartir o instante feliz é uma forma de multiplicá-lo, fazê-lo eterno. Perceber que belezas superiores insistem em se esconder em belezas menores, pouco atraentes.

Felicidades sem aviso. Reencontros inesperados, presente que se recebe sem razão, comemorações sem datas especiais. Pequenos gestos que fazem a diferença na soma de tudo. Vida que se comemora só por comemorar, só por reconhecer o que nela é único, irrepetível, singular. Eu espero que este novo ano seja um tempo propício para felicidades verdadeiras.

Eu não tenho nenhuma previsão para sua vida. Para mim, não importa se Saturno está na linha de Júpiter ou se as cartas revelaram verdades ocultas a respeito de quem quer que seja. O que sei é que a vida continua amanhecendo, com ou sem a minha previsão. O inesperado ainda é a metade mais viva da vida. Programe-se bem para este novo ano. Só quem se programa e cumpre bem o que se propôs saberá lidar com as surpresas. No mais, eu lhe desejo muitas e muitas felicidades sem aviso, sem previsões...

domingo, 3 de janeiro de 2010

O novo ano sob a ótica do menino (Pe. Fábio de Melo) - O Dia On Line -

O Dia On Line

Rio - O menino quis saber o significado do ano novo. Tentei dizer. Busquei as frases prontas que são tão comuns à essa época do ano, e prontamente me coloquei a repeti-las. Percebi que ele escutava tudo o que eu dizia, mas sem muito interesse. Ele voltou a insistir. Queria saber se haveria algum sinal que pudesse sinalizar a mudança do ano velho para o ano novo.

Eu fiquei desconcertado. Eu confesso que o único sinal que me ocorreu foi a famosa queima de fogos que acontece na praia de Copacabana. Não tive coragem de dizer. Apesar da pouca idade, o menino buscava por um significado mais profundo a respeito do tempo. Sem muitos rodeios ele argumentou que não conseguia perceber muito sentido nessa história de ano novo. Ele tinha uma visão prática da vida. E sobre ela me falou. Buscou realidades simples do seu contexto e exemplificou para que eu pudesse entender sua dúvida. O menino estava coberto de razão. Sua visão prática era coerente, lúcida. Não há nada de novo no ano novo. O que muda é o relógio, o calendário, mas a vida continua o seu remanso de sempre.

Foi então que busquei extrapolar o seu discurso prático e lhe ofereci algumas porções do meu discurso simbólico. Eu também precisava sobreviver àquela conversa. Não queria sair dela embebido daquela praticidade que poderia ruir minha capacidade de acreditar que existe alguma novidade à minha espera com o romper da nova década. O menino me olhava interessado. Falei sobre o tempo e seus ciclos. Falei da psicologia das horas.

Argumentei que a demarcação das datas pode ter repercussão nas almas das pessoas. A oportunidade de virar o calendário pode ter efeito positivo sobre aquele que se sente pesado, angustiado, sem esperanças. Comparei o ano velho a uma gaveta que precisa ser limpa. Guardamos muitas coisas desnecessárias. Chega o momento em que precisamos fazer a triagem. É necessário limpar, jogar fora, abrir espaços para coisas novas. Ano novo e gaveta limpa podem ter os mesmos sentidos, sugeri. Toda vez que nós temos a sensação de um novo tempo, é natural que nossas almas sejam invadidas por esperanças. Faz parte do processo humano sofrer de esperanças.

A esperança é uma espécie de instinto de sobrevivência. O cansaço dos tempos idos pode dispor o nosso coração à possibilidade de mudanças. É como se houvesse uma saturação. Não queremos mais o peso do passado. Precisamos de outra oportunidade. O calendário novo nos oferece essa sensação. Ao saber que o ano velho está sendo finalizado, é possível que você se encha de expectativas importantes.

O menino me olhou com carinho e agradeceu. Voltou para o seu mundo de brinquedos e deixou-me diante da necessidade de conciliar os dois discursos. O prático e o simbólico. Desaforo. O discurso prático parece humilhar o discurso simbólico. Ele resolve porque é dotado de clareza. É lógico, curto, asfixiante. E foi assim que recebi o ano novo.

Tentando equilibrar os dois discursos dentro de mim. Vez em quando eu me recordo da ótica do menino. Eu não a desconsidero. Ele tem razão. Se a gente não se empenhar na construção de um novo tempo, nada acontecerá. O ano novo será mesmice, repetição de erros, acomodação de posturas, condução medíocre de oportunidades, explosão de fogos que oferece brilho breve, assustadoramente fugaz. Mas não precisa ser assim. Há sempre um motivo novo abscôndito nas velhas estruturas da condição humana. A isso chamamos de evolução, superação. O menino me ajudou com sua ótica. Perdi o medo de ser prático na minha reflexão sobre o tempo.

De fato, nada mudou. Mas também não posso deixar de admitir que há um vento suave me conduzindo para o coração do futuro. E assim eu vou. Abraçando o presente, passando o passado, aprendendo com essa dinâmica interessante, inventada por alguém que não sei dizer, que faz o ano velho ser novo de novo.

O novo ano sob a ótica do menino (Pe. Fábio de Melo) - O Dia On Line -

O Dia On Line

Rio - O menino quis saber o significado do ano novo. Tentei dizer. Busquei as frases prontas que são tão comuns à essa época do ano, e prontamente me coloquei a repeti-las. Percebi que ele escutava tudo o que eu dizia, mas sem muito interesse. Ele voltou a insistir. Queria saber se haveria algum sinal que pudesse sinalizar a mudança do ano velho para o ano novo.

Eu fiquei desconcertado. Eu confesso que o único sinal que me ocorreu foi a famosa queima de fogos que acontece na praia de Copacabana. Não tive coragem de dizer. Apesar da pouca idade, o menino buscava por um significado mais profundo a respeito do tempo. Sem muitos rodeios ele argumentou que não conseguia perceber muito sentido nessa história de ano novo. Ele tinha uma visão prática da vida. E sobre ela me falou. Buscou realidades simples do seu contexto e exemplificou para que eu pudesse entender sua dúvida. O menino estava coberto de razão. Sua visão prática era coerente, lúcida. Não há nada de novo no ano novo. O que muda é o relógio, o calendário, mas a vida continua o seu remanso de sempre.

Foi então que busquei extrapolar o seu discurso prático e lhe ofereci algumas porções do meu discurso simbólico. Eu também precisava sobreviver àquela conversa. Não queria sair dela embebido daquela praticidade que poderia ruir minha capacidade de acreditar que existe alguma novidade à minha espera com o romper da nova década. O menino me olhava interessado. Falei sobre o tempo e seus ciclos. Falei da psicologia das horas.

Argumentei que a demarcação das datas pode ter repercussão nas almas das pessoas. A oportunidade de virar o calendário pode ter efeito positivo sobre aquele que se sente pesado, angustiado, sem esperanças. Comparei o ano velho a uma gaveta que precisa ser limpa. Guardamos muitas coisas desnecessárias. Chega o momento em que precisamos fazer a triagem. É necessário limpar, jogar fora, abrir espaços para coisas novas. Ano novo e gaveta limpa podem ter os mesmos sentidos, sugeri. Toda vez que nós temos a sensação de um novo tempo, é natural que nossas almas sejam invadidas por esperanças. Faz parte do processo humano sofrer de esperanças.

A esperança é uma espécie de instinto de sobrevivência. O cansaço dos tempos idos pode dispor o nosso coração à possibilidade de mudanças. É como se houvesse uma saturação. Não queremos mais o peso do passado. Precisamos de outra oportunidade. O calendário novo nos oferece essa sensação. Ao saber que o ano velho está sendo finalizado, é possível que você se encha de expectativas importantes.

O menino me olhou com carinho e agradeceu. Voltou para o seu mundo de brinquedos e deixou-me diante da necessidade de conciliar os dois discursos. O prático e o simbólico. Desaforo. O discurso prático parece humilhar o discurso simbólico. Ele resolve porque é dotado de clareza. É lógico, curto, asfixiante. E foi assim que recebi o ano novo.

Tentando equilibrar os dois discursos dentro de mim. Vez em quando eu me recordo da ótica do menino. Eu não a desconsidero. Ele tem razão. Se a gente não se empenhar na construção de um novo tempo, nada acontecerá. O ano novo será mesmice, repetição de erros, acomodação de posturas, condução medíocre de oportunidades, explosão de fogos que oferece brilho breve, assustadoramente fugaz. Mas não precisa ser assim. Há sempre um motivo novo abscôndito nas velhas estruturas da condição humana. A isso chamamos de evolução, superação. O menino me ajudou com sua ótica. Perdi o medo de ser prático na minha reflexão sobre o tempo.

De fato, nada mudou. Mas também não posso deixar de admitir que há um vento suave me conduzindo para o coração do futuro. E assim eu vou. Abraçando o presente, passando o passado, aprendendo com essa dinâmica interessante, inventada por alguém que não sei dizer, que faz o ano velho ser novo de novo.

Que a harmonia nos revele a beleza de mais um dia, mais um ano...

 Clique sobre a imagem para visualizá-la maior.

Que a harmonia nos revele a beleza de mais um dia, mais um ano...

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sábado, 26 de dezembro de 2009

Natais e mudas de alface (Pe. Fábio de Melo) - O Dia on line


Rio - A manhã chuvosa parecia costurada nos embaraços de uma noite mal dormida. O vulto de mulher prateado pelos raios de um sol recém nascido recolhia do tempo as agruras de saber-se temporário, imperfeito, afeito aos desajustes de um amor que adormeceu, mas que não desaprendera de amanhecer.

Era um corpo de dor, de menstruadas esperanças, de saudades e partos. Corpo de mãe, corpo de cumprir ofício de curar joelhos esfolados, de dar banhos que tinham o poder de lavar corpos e almas num mesmo acontecimento.

Corpo de amamentar filhos que crescem.

Aquela mulher e aquelas manhãs de dezembro. As recordações de seu tempo de menina, pobreza reconhecida, trazida na cara e denunciada pela moldura de olhos que não sabiam mentir.

O plantio programado, compromisso que nem mesmo a dor acontecida nas recentes horas poderia adiar, tinha ares de ritual religioso. A sementeira ao lado, moldada numa caixa de papelão resistente, sobre o canteiro que nasceu de suas mãos pequenas, esperava pela oportunidade de cumprir no tempo o destino de dar continuidade à obra da criação.

Morrer e viver são atos que se conjugam sem pressa.

A mulher sabia de tudo isso. As mudas miúdas também. Dotadas de sabedoria vegetal, cresciam ao seu tempo com a mesma simplicidade que é própria de quem não procura outro destino senão o seu.
Aquela mulher sabia mais. As mudas não mudam.

São sempre as mesmas desde o tempo de sua mãe. Ofício aprendido que se estende no tempo, feito consumação de uma despedida que se cumpre aos poucos, bem aos poucos.

Mudas de alface estão carregadas de sentido. Nelas, prepara-se o futuro que afugenta a fome, traz variações ao modo de carecer.

Recordo-me com saudade. O tempo era de chuvas. Jabuticabeiras explodiam.

Pequenos frutos pendurados em seu corpo de árvore-mãe, tal qual a minha mãe e seus meninos pendurados na cintura, entrelaçados nas pernas e puxando seus braços.

Dezembro tinha cores e histórias diferentes. Vitrines iluminadas, cartões de ocasião sendo preparados pela minha irmã, para que mesmo com simplicidade pudéssemos desejar votos de felicidades.

Presépio sendo retirado da caixa, árvores coloridas de bolas vermelhas, anunciando que nossa pobreza seria ainda mais exposta. Mas não havia problema. Nossa árvore, mesmo tão pobre, já era nossa alegria. As jabuticabeiras nos curavam de tudo...

Minha mãe e sua capacidade de replantar o mundo a partir de mudas de alface era o símbolo mais vivo de nosso Natal. Com seu jeito simples e hábitos rotineiros, ela condensava todas as virtudes que o acontecimento nos sugeria.

“O menino Jesus é quem merece presente neste dia!”, ensinava-nos como se quisesse modificar a ordem do mundo.

E assim acreditávamos.

Nossos presentes eram poucos. Quase nenhum. Só mesmo para não passar em branco, mas o mais importante nós não deixávamos de receber. O sorriso farto, a oração em família, a missa do galo e o nosso Natal já estava completo.

Aquela mulher nos fazia esquecer o que não tínhamos. Transplantava-nos, como fazia com as mudas de alface.
Deixávamos o chão estreito da sementeira e caíamos com nossas raízes nos canteiros fartos da simplicidade que ela sabia construir.
E assim era o nosso Natal.
Um acontecimento para nunca mais esquecer.

Natais e mudas de alface (Pe. Fábio de Melo) - O Dia on line


Rio - A manhã chuvosa parecia costurada nos embaraços de uma noite mal dormida. O vulto de mulher prateado pelos raios de um sol recém nascido recolhia do tempo as agruras de saber-se temporário, imperfeito, afeito aos desajustes de um amor que adormeceu, mas que não desaprendera de amanhecer.

Era um corpo de dor, de menstruadas esperanças, de saudades e partos. Corpo de mãe, corpo de cumprir ofício de curar joelhos esfolados, de dar banhos que tinham o poder de lavar corpos e almas num mesmo acontecimento.

Corpo de amamentar filhos que crescem.

Aquela mulher e aquelas manhãs de dezembro. As recordações de seu tempo de menina, pobreza reconhecida, trazida na cara e denunciada pela moldura de olhos que não sabiam mentir.

O plantio programado, compromisso que nem mesmo a dor acontecida nas recentes horas poderia adiar, tinha ares de ritual religioso. A sementeira ao lado, moldada numa caixa de papelão resistente, sobre o canteiro que nasceu de suas mãos pequenas, esperava pela oportunidade de cumprir no tempo o destino de dar continuidade à obra da criação.

Morrer e viver são atos que se conjugam sem pressa.

A mulher sabia de tudo isso. As mudas miúdas também. Dotadas de sabedoria vegetal, cresciam ao seu tempo com a mesma simplicidade que é própria de quem não procura outro destino senão o seu.
Aquela mulher sabia mais. As mudas não mudam.

São sempre as mesmas desde o tempo de sua mãe. Ofício aprendido que se estende no tempo, feito consumação de uma despedida que se cumpre aos poucos, bem aos poucos.

Mudas de alface estão carregadas de sentido. Nelas, prepara-se o futuro que afugenta a fome, traz variações ao modo de carecer.

Recordo-me com saudade. O tempo era de chuvas. Jabuticabeiras explodiam.

Pequenos frutos pendurados em seu corpo de árvore-mãe, tal qual a minha mãe e seus meninos pendurados na cintura, entrelaçados nas pernas e puxando seus braços.

Dezembro tinha cores e histórias diferentes. Vitrines iluminadas, cartões de ocasião sendo preparados pela minha irmã, para que mesmo com simplicidade pudéssemos desejar votos de felicidades.

Presépio sendo retirado da caixa, árvores coloridas de bolas vermelhas, anunciando que nossa pobreza seria ainda mais exposta. Mas não havia problema. Nossa árvore, mesmo tão pobre, já era nossa alegria. As jabuticabeiras nos curavam de tudo...

Minha mãe e sua capacidade de replantar o mundo a partir de mudas de alface era o símbolo mais vivo de nosso Natal. Com seu jeito simples e hábitos rotineiros, ela condensava todas as virtudes que o acontecimento nos sugeria.

“O menino Jesus é quem merece presente neste dia!”, ensinava-nos como se quisesse modificar a ordem do mundo.

E assim acreditávamos.

Nossos presentes eram poucos. Quase nenhum. Só mesmo para não passar em branco, mas o mais importante nós não deixávamos de receber. O sorriso farto, a oração em família, a missa do galo e o nosso Natal já estava completo.

Aquela mulher nos fazia esquecer o que não tínhamos. Transplantava-nos, como fazia com as mudas de alface.
Deixávamos o chão estreito da sementeira e caíamos com nossas raízes nos canteiros fartos da simplicidade que ela sabia construir.
E assim era o nosso Natal.
Um acontecimento para nunca mais esquecer.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ilumine o ano de 2010 !

Recebi um e-mail de uma amiga pra lá de especial e achei magnífico, e partilhar é a melhor forma de deixar de ser  um, e passar a ser mais um.

A coerência de que não podemos mudar o mundo sozinho tem que ser estrutura, para sermos mais um. O meu pouco somado a tantos outros será muito. Há um lema até então aparentemente simples, mas repleto de significado, onde a força do amor é a propulsão da partilha. “Juntos somos mais”.

Parabenizo os responsáveis da Asterisco21 pelos Dons de criação e agradeço o carinho e atenção dedicado no pronto retorno me concedendo a oportunidade de postar essa mensagem tão linda no Blog.

"O sucesso dessa campanha se deve principalmente a isso: compartilhar. Aliás, a palavra "compartilhar" é algo que podemos passar adiante no próximo ano"(Fernando A.- Asterisco21).

Que nossos corações se fortaleçam na partilha para que possamos ser portadores dessa luz.
Ilumine o ano de 2010 !

Ilumine o ano de 2010 !

Recebi um e-mail de uma amiga pra lá de especial e achei magnífico, e partilhar é a melhor forma de deixar de ser  um, e passar a ser mais um.

A coerência de que não podemos mudar o mundo sozinho tem que ser estrutura, para sermos mais um. O meu pouco somado a tantos outros será muito. Há um lema até então aparentemente simples, mas repleto de significado, onde a força do amor é a propulsão da partilha. “Juntos somos mais”.

Parabenizo os responsáveis da Asterisco21 pelos Dons de criação e agradeço o carinho e atenção dedicado no pronto retorno me concedendo a oportunidade de postar essa mensagem tão linda no Blog.

"O sucesso dessa campanha se deve principalmente a isso: compartilhar. Aliás, a palavra "compartilhar" é algo que podemos passar adiante no próximo ano"(Fernando A.- Asterisco21).

Que nossos corações se fortaleçam na partilha para que possamos ser portadores dessa luz.
Ilumine o ano de 2010 !

domingo, 20 de dezembro de 2009

Padre Fábio de Melo: Viva Lucinha Araújo

Padre Fábio de Melo: Viva Lucinha Araújo

20.12.09 às 00h46

 Conheci de perto a Sociedade Viva Cazuza, iniciativa já conhecida e liderada por Lucinha Araujo, mãe do poeta que deu nome à casa que abriga crianças portadoras do vírus HIV.

Andando pela estrutura, gentilmente acompanhado por Cristina, uma das lideranças que Lucinha trouxe para o trabalho, pude experimentar um sentimento bom que me fez concluir: o mundo tem jeito! Não há pessimismo humano que sobreviva a uma visita àquele lugar.

O aspecto é de casa. Em nada podemos reconhecer o molde tradicional que prevalece em instituições de caridade. As paredes são vivas, cheias de detalhes que pertencem à vida daqueles que ali moram. Ursinhos, bandeiras do Flamengo, bonecas, pôsteres de artistas consagrados, tudo nos sugere que as crianças são consideradas em suas particularidades. O espaço público se esforça para ser também particular. Jeito simples de permitir que a criança não se sinta perdida no mundo, já que há uma orfandade inegável, comprovada, documentada, mas que felizmente não alcança a vida prática.

Os agentes dessa proeza são muitos. São funcionários, voluntários, artistas, amigos que conhecem a luta diária para que o espaço não feche as portas. Gente que se empresta em generosa participação, manutenção de um sonho nobre. Sonho que nasceu da dor de perder um filho, momento em que a vida foi dissonante na pauta, tornando o canto triste, solitário, quase insuportável.

A sociedade é uma reação criativa da mulher que tem rosto conhecido. Ficou definitivamente imortalizada no filme que narrou a trajetória do seu filho, o controverso Cazuza.

Lucinha Araujo é portadora de um sorriso bonito, marcado por uma timidez enganosa. Ela é destemida. Descobriu na solidariedade o instrumental que precisava para superar a perda do filho único. Viveu um parto às avessas. Ao sepultar o seu principal vínculo com o mundo, apressou-se em ressuscitá-lo através de uma iniciativa que é muito mais que paredes de tijolos.

O espaço criado por ela é fortemente marcado pela vida de seu filho. Justa forma de manter-se presa ao motivo inicial. E nisso está a diferença. Através da Sociedade, Lucinha traz Cazuza de volta ao mundo. Mas com uma diferença. Sem drogas e sem Aids.

Através daquelas crianças, Lucinha retira o filho da morte, corrige o passado, reconcilia-se com sua dor, volta a ser feliz. Interfere no processo humano de pessoas que até então não faziam parte de seu mundo, de seu contexto, de seu horizonte de sentido. A sua luta não se limita ao cuidado primoroso que tem com as crianças que são vítimas desta herança cruel. É preciso ir além. É preciso alcançar a causa que gera o problema, mediante campanhas que conscientizem que a disseminação do vírus ainda é um problema social grave.

É o retorno do poeta. Ele não morreu. Retorna sem seus exageros, sem seus abandonos, sem suas misérias. Retorna iluminado pela atitude materna que o redime.

A Sociedade tem precisado de ajuda. Precisa de coisas simples. Remédios, alimentos, roupas, serviços. Precisa de tudo o que faz parte do cotidiano de uma criança. Mobilize-se para ajudar.

Ao divulgar pelo twitter a minha visita à Sociedade, pessoas do Brasil inteiro manifestaram o carinho e respeito à Instituição. Mas no mesmo dia, alguém fez questão de encaminhar um email preconceituoso, falando absurdos do poeta. Minha resposta foi simples, e aqui a reproduzo: ” A mim não interessa o que Cazuza fez ou deixou de fazer de sua vida. A mim interessa é o que sua mãe fez e faz a partir de sua morte.” Por isso eu digo: Viva Lucinha Araujo!