Fábio de Melo: padre no altar e padre no palco
Boa pinta, jeito de artista de novela ou cantor de televisão, o padre Fabio de Melo vai conquistando o seu espaço na mídia, apesar do sucesso não desvia do verdadeiro ministério a que foi vocacionado: uma preocupação que não passa despercebida nesta entrevista que o mais jovem dos padres-cantores concedeu.
- Como e quando começou a vocação de cantor? Isto aconteceu antes ou depois da vocação de consagrado?
Pe. Fábio de Melo – Desde criança sempre gostei de música. Na minha vida tem a mesma função que tem no desenho animado. Sem ela não saberemos entender a cena. A música é o elemento que nos direciona para a interpretação mais acertada dos fatos.
- O senhor já foi tentado a largar a vida de consagrado para seguir uma vida de artista secular?
Pe. Fábio de Melo – Não. Mesmo porque sempre tive muita certeza do que queria. Deus me deu a graça de conciliar tudo o que sou com tudo o que Ele queria que eu fosse. Sempre inventam histórias a nosso respeito. Ser público consiste em sofrer na carne as invenções dos outros. É lamentável que estas conversas surjam assim do nada. Por vezes, nós cristãos criticamos a mídia que sobrevive da fofoca, mas acabamos reproduzindo em nosso meio a mesma postura.Minha vida sacerdotal é minha realização. Nunca pensei em desistir dela. Se um dia isso vier a me acontecer saberão por mim mesmo. Não quero informantes da minha vida, mas participantes, gente que me ajude a ser padre, que reze por mim e que não embarque nos comentários de quem não sabe fazer outra coisa, senão inventar histórias a respeito da vida de quem nem sequer conhece. Só isso. No mais, estou feliz. Recolho a dor e alegria de ser o que sou e de fazer o que faço.
- O senhor é um padre jovem, bonito e famoso. Quando sobe no palco as garotas gritam freneticamente. Qual é a sensação nesse momento?
Pe. Fábio de Melo – Encaro com naturalidade. A música católica sobrevive assim. Todos os que trabalham com música lidam com essa manifestação inicial. Quando começa o show é muito natural que as pessoas que estão ali se manifestem de alguma forma. O grito é a expressão da massa. Não há outra forma possível de se demonstrar o carinho que se tem pela pessoa que entrou no palco. Agora, quando percebo que os gritos não passam, então dou um jeito de mostrar que não estou ali para isso. O palco não é diferente do altar. Sou padre nos dois e para mim não há diferença. O padre que preside o mistério da Eucaristia é o mesmo que preside o mistério da canção, que também é uma forma de comunhão existencial, partilha, vida que nos torna irmãos.- A música é também um instrumento de evangelização.
Das músicas que o senhor gravou até hoje, na sua opinião, qual delas transmite mais este ensinamento?
Pe. Fábio de Melo – Gosto de dizer bem as coisas. Música para mim é uma oportuinidade de traduzir a teologia que amo tanto. O povo merece conhecer a verdade revelada, a face verdadeira de Deus, que é a misericórdia. Sempre que escuto alguém me dizer que Deus lhe falou através de uma canção composta por mim, chego à conclusão de que aquela música já cumpriu a sua missão, já valeu por ter sido feita. Por isso, é difícil identificar a que mais transmitiu algum bem às pessoas. Não quero ser injusto com minha obra nem tão pouco colocá-la acima do que ela é.
- São 90 milhões de católicos. Na sua opinião, por que é que se vende tão poucos CDs de música católica e também livros e revistas católicas, enquanto que as coisas do mundo, que são mais caras, vendem mais?
Pe. Fábio de Melo – Porque, infelizmente, a cultura religiosa não fez a ponte com a cultura popular. Hoje já vemos sinais de mudança. Estamos aprimorando a linguagem, desenvolvendo um jeito próprio de dizer as coisas, adotando o bom gosto e superando os estereótipos do sagrado. Não podemos mais permanecer na contramão. O bom gosto tem que tomar conta das nossas produções. O povo gosta de coisa bonita. E Deus também.
- Toda música tem uma história. Para o senhor, qual história teria uma música? E qual música?
Pe. Fábio de Melo – A arte é sempre uma forma de transformação alquímica. Uma tristeza sempre se reveste de beleza quando verdadeiramente experimentada. Eu não fujo do que me faz sofrer. Não tenho medo da dor; ao contrário, se tiver que sofrer eu quero sofrer até chegar ao ensinamento que na dor está latente. A música “Mais perto” nasceu assim. Ela é fruto colhido de uma dor sem tamanho. A música “Marcas do eterno” também. Sempre que alguém me pergunta “por que você fez essa música?” eu respondo: “não sei, porque se eu soubesse não a teria feito. A arte é um recurso que nos ajuda a dizer o que por natureza não pode ser dito.
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